Projeto de Assistência Primária à Saúde da Mulher   

  Reserva Indígena do Alto Rio Negro – Iauereté 
Amazonas/Brasil

 
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Relato de Experiência

Este projeto teve como origem o trabalho Sobre Saúde Reprodutiva com as Mulheres da Reserva Indígena do Alto Rio Negro Iauareté, tendo como base institucional o Núcleo de Estudos de Populações  - NEPO da Unicamp.

O trabalho sobre saúde reprodutiva vem sendo desenvolvido com o objetivo de construirmos um diálogo entre as concepções tradicionais sobre o ciclo de vida da mulher e sua saúde, e o conhecimento ocidental sobre este tema. Informações sobre contracepção, gravidez, parto e puerpério e prevenção às DST / AIDS, são abordadas durante os encontros que estão sendo promovidos junto com a AMIDI- Associação das Mulheres Indígenas de Iauereté .

Minha função como enfermeira obstetra era colher o exame preventivo de cancer do colo uterino, exame para identificação precoce de  cancer de mama, realização de pré-natal das grávidas e atender a demanda imediata que sabiamos iria aparecer. Tambem tinhamos como objetivo o levantamento da historia de Saúde Reprodutiva das mulheres .

Iauereté é um povoado formado de várias aldeias congregadas em torno de uma missão salesiana, datada de 1930. Localiza-se no alto do rio Uaupés, municipio de São Gabriel da Cachoeira, fazendo fronteira com a Colômbia. Devido a sua localização e à concentração populacional tornou-se um importante centro político para os indios, com várias organizações indígenas presentes, entre as quais a AMIDI – Associação das Mulheres Indígenas do Distrito de Iauereté .

Devido ao fato de Iauareté ser fronteira o contingente de militares que chega ao povoado para permanecer por alguns meses é enorme.  Os militares trazem doenças para esta população que vivia isolada e tem poucas defesas imunológicas.

A população da região tem como opção de atendimento um pequeno hospital coordenado pela igreja e teoricamente o ambulatório  do exercito, digo teoricamente pois este ambulatório não é procurado pela população indígena. O hospital militar fica dentro do acampamento totalmente cercado, isolado da comunidade.

A população indígena compreende a questão da saúde de maneira muito diferente da nossa, para eles por exemplo muitas doenças são expressões de algum tipo de “feitiço”. Eles possuem rezas especiais para cada situação e em casos de saúde é sempre o pajé ou Kumu que é chamado para ajudar. As ervas encontradas na floresta também são amplamente utilizadas por esta população.Na época da 1ª menstruação as meninas passam pelo ritual do benzimento onde comem uma comida especial que inclue uma determinada espécie de formiga, passam pimenta na pele e também a colocam no nariz, são rezadas pelos Kumus e impedidas de serem vista pelo resto da tribo até que a menstruação cesse. Estes e muitos outros rituais ligados a questão da saúde e da reprodução são utilizados pelas mulheres desta região.

Numa região como esta carente de atendimento primário de saúde a funcão da enfermeira e em especial da enfermeira obstetra  é enorme. Trabalhar junto a população sempre a partir das concepções locais a questão da saúde nos seus aspectos de prevenção e promoção. A participação da enfermeira fora dos hospitais, em regiões distantes, com uma população de caracteristicas tão diversa da nossa, é um desafio e uma conquista para a nossa profissão.