Embaixadora mundial dos Direitos Humanos no Parto e Nascimento

Heloisa Lessa foi a primeira brasileira a receber o prêmio Human Rights in Childbirth e se tornar embaixadora dos direitos humanos no nascimento.

Heloisa Lessa foi a primeira brasileira a receber o prêmio Human Rights in Childbirth e se tornar embaixadora dos direitos humanos no nascimento.

No 8 de março de 2019, Dia Internacional da Mulher, tive o prazer a honra de ser nomeada embaixadora dos direitos humanos no nascimento pela Human Rights in Childbirth, um conselho voluntário de especialistas e defensores dos direitos de maternidade em todo mundo. 

O Prêmio da Human Rights in Childbirth envolve governos e ONGs do mundo todo que trabalham juntos para garantir que todas as mulheres e bebês sobrevivam ao parto. A escolha dos premiados é feita por meio da indicação da comunidade do profissional.

"Em muitos lugares do mundo, a raça ou a etnia desempenham um papel importante nos cuidados que as mulheres e as famílias recebem. Frequentemente, os povos pobres, da classe trabalhadora, das minorias ou marginalizados, não recebem cuidados ou, se recebem, são insuficientes tornando a mortalidade materna e infantil maior nesses grupos. O Human Rights in Childbirth reconhece essas disparidades e trabalha para criar mudanças especialmente nas comunidades marginalizadas".

 

Essa foi a primeira vez que um brasileiro foi escolhido. A comenda é dada por um conselho voluntário de especialistas e defensores dos direitos de maternidade de todo o mundo. O prêmio foi criado para celebrar os profissionais que são apaixonados pelo seu trabalho e envolvidos com causas que sofrem ameaças, como é o caso do parto domiciliar no Brasil.

 
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Indicação Ricardo Jones

 

Heloisa Lessa está entre estes profissionais que enfrentam a chaga da violência de gênero, e por isso mesmo se tornou alvo da corporação que deseja manter o status quo inalterado, cristalizando sistemas de controle sobre os corpos de mulheres, negando a elas o sagrado direito de escolher onde, com quem e como terão seus filhos.

Defender Heloisa é mais do que fazer justiça pelos ataques a ela desferidos; é lutar por toda uma comunidade de ativistas do parto humanizado e pelo paradigma da humanização, que ganha corpo no Brasil e no mundo. É lutar para que as mulheres tenham voz; é lutar para que tenham direito de fazer escolhas sobre seus corpos e seus partos. É lutar contra o arbítrio e garantir que as novas gerações possam viver em um país onde a equidade de gênero seja uma realidade e nenhuma mulher seja punida por desejar parir em paz.

Não podemos nos deixar iludir pela cortina de fumaça criada pelos ataques a personalidades isoladas da humanização do nascimento. Tais ataques surgem sempre que um sistema de poder se sente ameaçado por um novo paradigma que desafia forças hegemônicas. Sabem eles que não é necessário e nem desejável debater as evidências e as provas que embasam o modelo emergente; basta atacar as pessoas, isoladas e frágeis, para que a mensagem, se não pode ser destruída pela verdade, que seja atrasada em seu alvorecer.

A humanização do nascimento, um movimento que congrega profissionais de várias áreas de atenção ao parto, vem sofrendo ataque há muitos anos contra médicos, enfermeiras, doulas e demais ativistas. Os ataques à enfermeira Heloísa é apenas um capítulo de uma história de resistência e resiliência do movimento de humanização. Outros profissionais já sofreram ataques terríveis e continuam a enfrentar resistência daqueles que se opõem às mudanças. Em um país em que a classe média tem 85% de cesarianas é justo que um grupo de cidadãos - profissionais do parto ou não - se insurgisse com coragem e força, enfrentando o descalabro da violência obstétrica onde a cesariana descontrolada e abusiva é apenas a imagem mais emblemática.

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depoimentos

Contribution to human rights in childbirth

Por Lesley Page - Over decades Heloisa has worked creatively and with great courage to humanise birth in Brazil. This is a movement that integrates human rights, science based care, high quality care, and skilled educated and compassionate practitioners including midwives. She has done this through an approach and philosophy that starts with the development of her own practice as a midwife. She has led in the development of a vision for midwifery and maternity care, led the development of the profession of midwifery, and policy. Heloisa has worked in multidisciplinary practice and forums, and through community involvement with numbers of government organisations and NGOS and Professional Associations. Heloisa practises as a home birth midwife and in hospital, both in urban areas but has also worked in very remote areas of Brazil including the Amazon, working with indigenous populations. This has been in a culture that oppresses home birth and normal birth and promotes caesarean section. She has worked nationally and internationally through a number of organisations and has led and provided high level state of the art international conferences on humanised birth and primal health, a science based approach. She was awarded a PhD, her thesis being around home birth in Brazil. She has also achieved a media presence that has raised awareness of the power of midwifery and how maternity needs to change in Brazil.

Adverse social legal or cultural situations

The profession of midwifery was decimated in Brazil, and restoring it to ensure that women had the right of access to high quality care has been extremely challenging. Brazil has one of the highest c/s rates in the world, and extremely dehumanised maternity services. The movement to humanise birth started in the late 1990s and has achieved success in the development of humanised birth services, this includes home birth and birth centres and maternity hospitals provided through SUS the Brazilian national health service. Moreover the previous government passed legislation to reduce the caesarean section rate. This was successful. Practising and leading in a country that oppresses human rights in childbirth, is in itself a massive challenge, always being under scrutiny, and threat of judicial review by going against the norm. To do so creatively and with continual persistence is a real achievement. Brazil has elected a far right populist President, who wastes no time in reducing woman’s rights to control of their own reproduction and reducing access to high quality care that humanised maternity services provide. To award to a nominee in this situation will send out positive messages and encourage the courageous work of many. 

 
 
Heloisa Lessa e Michel Odent

Heloisa Lessa e Michel Odent

Por Michel Odent - I learned a lot from Heloisa Lessa and women who gave birth at home in her presence. I learned, in particular, about a little known kind of phobia. Many phobias have been extensively studied. This is the case, for example, of arachnophobia (fear of spiders), ophidophobia (fear of snakes), aerophobia (fear of flying), phobia of needles, agoraphobia, etc. It is paradoxical that the phobia of hospitals, which is comparatively common, has never been investigated.  One reason might be that many women are reluctant to express a  fear considered irrational. It is becoming a serious topic, at a time when, in many countries, women have difficulties to find alternatives to hospital birth. From my knowledge, Heloisa Lessa is the world expert on this personality trait, which may be considered a pathological condition. She must be encouraged to improve and transmit her precious knowledge.